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Sentenciar uma frase com o complemento da palavra "sempre", seja para sinalizar algo positivo ou negativo, é algo que requer certeza ou, pior, certa dose de insatisfação e de descontentamento frente a uma determinada situação. Mas ela cabe com uma luva para o Brasil, que é um país que cansa. E isso não se dá apenas às vezes. É sempre. Nesse feriado de Proclamação de República vou falar, aqui, apenas dos período em que conheci e vivenciei. Desde a redemocratização, de 1985 em diante, nossa nação experimentou ciclos de desenvolvimento e de crescimentos que tiveram voos de galinha.
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Em meio ao desastroso governo Sarney, que assombrou os brasileiros e mergulhou o país em uma espiral de hiperinflação, ouvia em casa que o Brasil "era outro" na época dos militares. E citavam o chamado "milagre econômico" que, nos anos de 1970, fez o país crescer a taxas de 10% ao ano e que a renda do povo havia dobrado. Ainda nos anos 1980, os noticiários traziam a receita que levaria o Brasil a se curvar frente ao FMI: a combinação da dívida externa e os déficits em conta corrente. O agravante, à época, era que não tínhamos uma economia voltada para fora. Ou seja, abdicamos das exportações. Estava fechado, ali, o combo do fracasso.
Mas a década de 90 chegou e, depois, do impeachment do farsante Collor, tivemos a eleição de um sociólogo, um letrado. Era, de fato, a classe média - com sua instrução - assumindo o comando do país pelas mãos de Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real, iniciado sob o esquecido, mas valoroso Itamar Franco, fez de FHC o presidente que trouxe o controle do dragão da inflação e deu ao pobre renda e poder de compra. O Brasil, enfim, tinha uma "ponte para o futuro" - não a pinguela sugerida por Michel Temer - que nos aproximou com os grandes mercados e das nações desenvolvidas.
O Brasil se modernizava com a abertura do mercado, privatizações e, principalmente, a regra de ouro do mercado: uma moeda estável. Um choque liberal e não entreguista, como alguns tentam maldosamente descrever aquela época. Obviamente que FHC não fez as reformas necessárias que o país precisava, mas deu ares de pujança e de que se poderia confiar e aportar investimentos naquele novo Brasil.
Aí, então, veio os anos 2000, e com ele, os brasileiros afiançaram que era a vez de um operário assumir o poder. Lula era o nome, a cara e a fala do povo. Ao menos, de parte dele. Avanços importantes se deram na gestão petista. Afinal, nem tudo foi terra arrasada nesse período. Uma euforia tomou conta dos brasileiros. Até porque eram os trabalhadores no poder. Só que a festa, que se imaginava que poderia ser para todos, virou privê. O PT mostrou, ao estar no poder, que o projeto sempre foi de governo. Nunca foi de Estado. Mensalão e Petrolão resumem o desalento de quem acreditou que o partido era diferente dos demais.
Após os borrões de governo de Dilma e o mandato-tampão de Temer, o Brasil se viu sem ter para onde correr e sem ter para quem olhar com uma vã esperança. E é em meio ao desalento e ao medo que, assustado, o povo se agarra a saídas simplistas. E na busca por falsos messias, foi dada vida a um frankstein político, chamado Bolsonaro. O capitão da reserva, com quase 30 anos de mandato como deputado federal, foi eleito presidente pelo repúdio ao PT e graças a um insosso PSDB, que sublimou depois de FHC. E, hoje, estamos à beira do abismo em um governo cambaleante que "despacha" por meio do Twitter.
Já tivemos épocas, em nossa república, de governos e de ditaduras sob o jugo de oligarquias, donos de feudos, caudilhos, militares. Todos esses se assemelhavam em um mesmo aspecto e entendimento de país: governar para poucos e apenas para os seus. E sempre com a clareza de que mulheres e negros eram a representação do nada. Ou seja, subgênero e subraça, respectivamente. Sem dizer dos gays, uma mera ilusão de ótica para setores conservadores e ultrapassados que fazem, até hoje, dos homossexuais a métrica para piadas infames e certeiras em rodas de conversa.
É por isso que o Brasil, de ontem e de hoje, cansa. Já o país de amanhã segue sendo o da esperança de um futuro que, até o momento, insiste em não vir.